Se valesse como ano letivo, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva estaria de recuperação com a missão de tirar boas notas em 2024. O ponto é que o primeiro ano do Lula 3 enfrentou sequelas deixadas pela gestão de Jair Bolsonaro e sobreviveu aos últimos doze meses como um aluno em adaptação.
Passado o período de transição, é hora de o Ministério da Educação (MEC) se debruçar em uma série de mazelas:
• a crise do Ensino Médio,
• a regulação dos cursos universitários,
• o debate a respeito do estudo remoto,
• digitalização.
No entanto, bem como acontece em reuniões de pais e mestres, é preciso focar nas emergências a serem cobradas por educadores, gestores, estudantes e suas famílias.
“Em 2023, o MEC lançou duas políticas audaciosas, ousadas e estruturantes: o compromisso de alfabetizar e o de aumentar o número de escolas em tempo integral. Então, 2024 é o ano da pasta não apenas lançar essas grandes políticas, mas conseguir implantação adequada”, analisa Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais da organização Todos Pela Educação. “Outra pauta importante é a questão da formação inicial de professores. Temos visto a proliferação do ensino à distância e esse é um problema, pois não estamos conseguindo formá-los bem para o início da docência.”
“Como vamos preparar as próximas gerações para a tecnologia?.”
Pedro Flexa, vice-presidente do Sinepe Rio
De fato, o EAD é prioridade e não somente para Licenciatura. A modalidade precarizou a qualidade de muitos cursos, por isso, Camilo Santana, o ministro da Educação, anunciou esforços: “Nós precisamos ter uma agência reguladora robusta para acompanhar e supervisionar, de forma efetiva e melhor, os nossos cursos de nível superior no País”.
Regularizar será o verbo a ser conjugado nos próximos meses, pois outra peleja do MEC será a revisão do Novo Ensino Médio — o projeto de lei enviado pelo governo atual deve voltar para análise apenas em março.
Essa é a expectativa da ala estudantil, que foi às ruas escancarar deficiências que culminaram em disciplinas como Brigadeiro Caseiro.
“Sem sombra de dúvida, algo aguardado pelos estudantes é a votação do PL da revisão do NEM. Lutamos tanto por isso após termos aberto consulta pública e feito manifestações”, relembra Jade Beatriz, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. “Queremos um Ensino Médio justo para todos e não um que crie abismo de desigualdade social ou que aproxime alunos da escola pública do subemprego”, prossegue ela.
Como porta-voz da classe, a ativista reforça outros dois pontos para o órgão colocar em prática:
• a expansão dos institutos federais,
• e a ativação do programa de bolsa permanência e de poupança para estudantes de baixa renda.
Vale observar que tais pontuações passam longe de debates aleatórios que estamparam o noticiário no último ano.
Em São Paulo, por exemplo, aconteceu a lambança ao redor do material didático. O governo paulista chegou a dizer que os alunos teriam conteúdo 100% digital. Virou caso de Justiça, com a volta do conteúdo impresso. O imbróglio potencializou a discussão sobre o uso de tecnologias na educação.
Para especialistas, o Brasil deve avançar nessa área, mas sem esquecer outros desafios antes de pensar em abandonar os livros. “Vivemos uma revolução midiática e isso convoca as instituições a reagir em tempo real ao impacto dessas tecnologias que se fazem presentes, muitas vezes à nossa revelia”, avalia Pedro Flexa Ribeiro, vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro. “Há um ano, o ChatGPT se popularizou, e ele não vai embora em 2024. A questão é como vamos preparar as próximas gerações para usar essa e outras tecnologias de maneira responsável e eficaz. Sem esquecer, é claro, da formação específica de professores para esse campo.” A Educação brasileira precisa ter foco em 2024.
Matéria originalmente publicada no site Istoé.