04 de novembro de 2019

EDUCAÇÃO - Caça às bruxas por vazamento

EDUCAÇÃO

Caça às bruxas por vazamento

Abstenção, no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio, foi a menor da história, de 23% dos mais de 5 milhões de inscritos. No próximo domingo, deve ser maior. Divulgação de foto da prova leva a investigação

RODOLFO COSTA

O governo vai promover uma “caça às bruxas” para identificar o responsável por vazar a imagem de uma prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A principal suspeita do ministro da Educação, Abraham Weintraub, é de que seja um aplicador. A promessa dele é não medir esforços para encontrar e punir o responsável. “O que a gente vai tentar fazer é escangalhar ao máximo a vida dele. (...) Absolutamente tudo que a gente puder fazer para essa pessoa se arrepender amargamente de ter um dia vindo ao mundo”, afirmou, na noite de ontem.

Antes, o ministro afirmou, em vídeo publicado no Twitter pessoal, que, “aparentemente”, o caso aconteceu em Pernambuco. À noite, ele recuou, e disse que vai aguardar o término das investigações, que estão sendo conduzidas pela Polícia Federal (PF). “O que a Polícia Federal levantou é que ele teve acesso depois da distribuição das provas, o malandro. Viu os alunos que não tinham comparecido e pegou as provas de quem não tinha comparecido e divulgou as páginas da redação. É mais uma tentativa de gerar um mal-estar para a população”, criticou.

Até a noite de ontem, a PF não tinha o nome do principal suspeito. Na foto vazada, consta a principal pista utilizada pelos agentes na identificação do transgressor: o código de barras. “Eram três provas. Conseguiu três provas e os códigos. Eram de pessoas que faltaram. Então, provavelmente, foi um aplicador. Tudo provavelmente, afirmar, não vou. A polícia vai entregar o nome, a pessoa. Uma pessoa baixa, vil, uma pessoa má, que abusou da confiança dos outros. (...) Sabemos pelos códigos de barra e estamos localizando rapidamente”, afirmou.

Para o ministro, as punições no Brasil são leves e, portanto, disse que o governo vai atrás de “absolutamente tudo” que puder fazer para que a pessoa seja punida. “Para essa pessoa pagar pela má-fé dela, pela falsidade e traição que cometeu. Absolutamente tudo. Se der para ser criminal, criminal, civil”, destacou. “Vamos atrás dele. Não estamos no Império Romano, não existe mais empalamento e crucificação.”

Apesar de o vazamento ter deixado o ministro visivelmente incomodado, ele considera que o primeiro dia de aplicação de provas foi “ótimo”. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, 1,17 milhão de inscritos se ausentaram, o que representa uma abstenção de 23% em relação aos cerca de 5,09 milhões de inscritos. “Foi a mais baixa abstenção da história do Enem”, celebrou Weintraub.

Dos cerca de 3,92 milhões de presentes, 376 foram eliminados, o que representa cerca de 0,0095% do total. É um dos dados que levam Weintraub a crer no sucesso da aplicação. As eliminações, explicou, foram em decorrência de descumprimento de regras gerais, por acusação no detector de metais, em decorrência do porte de equipamento eletrônico, ou, segundo o Inep, por decisão do estudante em ausentar-se antes do horário permitido, ou por “utilizar impressos”, ou por não atender orientações dos fiscais. “Mas (não teve) nenhuma detecção de fraude”, afirmou o ministro.

Entre o total de presentes, 93 foram, segundo critérios adotados pelo Inep, afetados por “ocorrências logísticas”. O governo atribui essas causas a emergências médicas, interrupção temporária de energia elétrica, problemas com abastecimento de água, entre outros. “Tivemos episódios de falta de luz, um ou outro episódio por falta de água, dois episódios de pessoas com problemas de saúde, mas, de modo geral, foi um Enem muito tranquilo”, analisou.

Influências

Para a próxima prova, onde os estudantes serão testados em questões das disciplinas de química, física, biologia e matemática, Weintraub prevê uma abstenção maior, mas, ainda assim, mantendo o padrão de um baixo índice histórico. “A abstenção (da segunda prova) costuma ser um pouco maior, mas estou surpreso, (foi) a mais baixa da história. Quem sabe, (a abstenção) tem que ser um pouco maior, mas espero que seja abaixo também”, ponderou.

O primeiro Enem da gestão Bolsonaro foi carregado de influências do atual governo, admitiu Weintraub. “Foi um sucesso, deu certo, a despeito de ficar seis meses debaixo da chuva de fake news. Foi o mais baixo em termos de custo por aluno e isso é nominal, inclusive, já desconsiderando a inflação. O mais baixo, aparentemente, em termos de problemas. É, sim, a cara de eficiência, gestão e responsabilidade que a gente busca dar ao governo do presidente Jair Bolsonaro”, sustentou.

Além disso, ele reconheceu a interferência em termos de costumes e valores. “Respeitamos toda a sociedade, não está tendo crítica nenhuma em relação aos temas, mostrando que somos republicanos e visando a atender a sociedade como um todo. Ao contrário do que tinha no passado, doutrinação, ineficiência, escândalos, problemas com gráficas”, explicou.

A prova de ontem, contudo, foi a primeira em anos que não teve questionamentos alusivos à ditadura militar. Weintraub minimizou o tema, mas admitiu que orientou os responsáveis pela composição do exame em elaborar uma prova capaz de testar os candidatos. “Pedimos uma prova que pudesse selecionar as pessoas mais qualificadas para conseguir entrar em uma faculdade. O objetivo do Enem é selecionar as pessoas mais capacitadas. Ponto. E acho que foi atendido”, justificou.

Professores do Sigma comentam conteúdo ao vivo

Nesse domingo, 25 professores do Centro Educacional Sigma comentaram, ao vivo, direto dos estúdios da TV Brasília, as provas de ciências humanas e linguagens e a redação do Enem 2019. A live foi transmitida nas redes sociais do Correio Braziliense, com excelente audiência no Twitter. No próximo domingo, a equipe do colégio retorna à redação para dar o gabarito e comentar os itens de matemática e ciências da natureza do exame. Mais de 5 milhões de pessoas estão inscritas no Exame Nacional do Ensino Médio.

CORREIO BRAZILIENSE, 04/11/19, POLÍTICA