Não dá para comparar (!?)
Paulo Arns da Cunha*
Em uma roda de conversa, comparei a Educação brasileira à do Reino Unido e um colega alegou que não é possível comparar dois países tão diferentes, já que somos 35 vezes maiores que a terra da rainha Elizabeth. Segundo ele, países com melhor desempenho costumam ser pequenos, com sociedades homogêneas e coesas. Para provar que dimensão não interfere na qualidade da Educação de um país, vamos traçar um comparativo com o Canadá, o segundo maior país do mundo.
O Canadá não tem um sistema educacional único, pois é baseado em províncias autônomas. Mesmo assim, o comprometimento em oferecer oportunidades iguais na escola é um traço em comum entre todas as regiões do país. Apesar da dimensão continental, como temos aqui no Brasil, o Canadá não é uma nação de extremos – pelo contrário, seus resultados no Pisa (Programa para Avaliação Internacional de Alunos) mostram uma média alta, com pouca diferença entre os estudantes (mais ou menos favorecidos, social e financeiramente) e uma variação muito pequena entre diferentes escolas, em comparação com a média de países desenvolvidos. Os alunos estrangeiros (22%) conseguem manter o mesmo nível dos canadenses.
Além disso, há um forte investimento de base em alfabetização, com a contratação de educadores bem treinados, investimento em recursos como bibliotecas nas escolas e avaliações para identificar escolas ou alunos que possam estar enfrentando dificuldades. No Ensino Superior, 100% dos alunos canadenses estudam em universidades públicas, enquanto no Brasil, são apenas 25%.
A diferença na valorização do professor também é gritante: no Brasil, os professores ganham menos e lidam com turmas maiores do que seus pares na maioria dos países da OCDE. No Canadá, o ingresso na profissão de professor é altamente seletivo, os profissionais são reconhecidos, respeitados e muito bem pagos.
Enquanto a remuneração média dos professores brasileiros não passa de R$ 5 mil mensais, segundo a OCDE, em Toronto, por exemplo, o salário médio dos professores de escolas públicas é o equivalente a R$ 20 mil por mês. E além de ter um bom salário, os professores são instruídos a realizar cursos para atualização e aperfeiçoamento. Em sala de aula, os alunos fazem atividades para estimular o senso crítico e habilidades emocionais, como autocontrole, responsabilidade, organização, colaboração e iniciativa própria.
Depois de todos os meus argumentos, aquele meu colega encontrou outro pretexto para justificar o nosso atraso na Educação: o Canadá tem pouco mais de 37 milhões de habitantes, enquanto a população do Brasil ultrapassa os 202 milhões. Sendo assim, vamos falar da Educação na China, que tem mais de 1 bilhão de habitantes e disputa o topo do ranking do Pisa entre os 10 melhores. Mas isso é para outro artigo…
*Paulo Arns da Cunha é presidente da Divisão de Ensino da Positivo Educacional.